GESTALT-TERAPIA COMO VERTENTE
FENEMONOLÓGICA EXISTENCIAL
GESTALT THERAPY AS AN EXISTENTIAL PHENOMONOLOGICAL
Larissa C. P. Garcia.[1]
Me. Simoni U. Bonfiglio [2]
RESUMO: Buscando apresentar uma
contextualização acerca dos fundamentos básicos da Gestalt, refletindo se esta
abordagem se encontra dentro da teoria da fenomenologia. Este trabalho tem o
objetivo formar uma base conceitual, bem como verificar, como foi concebida a
priori a Gestalt Terapia em termos de contexto filosófico, contribuindo, desta
forma, ao enfatizar a sua rica contribuição na Psicologia.
Palavras-chave:. Gestalt. Fenomenologia. Psicologia.
ABSTRACT:. This
work aims to present a contextualization about the basic fundamentals of
Gestalt, reflecting if this approach is within the theory of phenomenology.
This work has the objective to form a conceptual basis, as well as to verify,
as Gestalt Therapy was conceived a priori in terms of the philosophical context,
contributing, in this way, to emphasize its rich contribution in Psychology.
Keywords:.
Gestalt. Phenomenology. Psychology.
1 INTRODUÇÃO
‘’
Mas como abrirmos os ouvidos e os olhos ao mundo? Considero o meu trabalho, uma
pequena contribuição para o problema, a qual poderia conter a possibilidade de
sobrevivência da espécie humana’’ (PERLS, 1969/1997, p. 13).
Este
trabalho acadêmico busca apresentar uma reflexão acerca de alguns dos conceitos
fundamentais da Gestalt-Terapia, bem como refletir se esta abordagem
encontra-se dentro da fenomenologia.
Utilizando de Pesquisa Quantitativa e Pesquisa Bibliográfica. Tendo sido a
abordagem Gestalt iniciada no final do século XIX, na Áustria e Alemanha, por
MAX WERTHEIMER (1880 – 1943), KURT KOFFKA (1886 – 1941) e WOLFGANG KÖHLER (1887
– 1967). Tendo ela como objetivo, o estudo da percepção dos indivíduos, acerca
do mundo a sua volta.
Chamada
também de Teoria das Percepções, seu objetivo foi analisar como o ser humano
percebe os fatores externos como: objetos, imagens e sensações, e os relaciona.
Devido a Terapia Gestalt ter estabelecido as suas raízes nas concepções
existencial e fenomenológica, participou da corrente precursora da Psicologia
Humanista, que tomou corpo por volta de 1954 com Maslow. Esta colocava o homem
total no centro da Psicologia, conferindo-lhe um status de sujeito, responsável
pelas suas escolhas e crenças. A Gestalt foi amplamente embasada em vasto e, diversificado
material filosófico, como o psicodrama, a psicanálise, terapias corporais e
também filosofias orientais, como o budismo e o taoísmo. Devido a este fator,
Gestalt-Terapia recebe sua principal crítica, uma vez que alguns autores não a
veem como uma abordagem pura, mas sim, uma mistura de técnicas e abordagem. Podemos
considerar que é justamente esse fator, o que a torna interessante, este
aperfeiçoamento Gestaltico de diversas abordagens. Ao encontro, afirma Zinker
(2007, p.30): ‘‘A Gestalt-terapia é, na realidade, uma permissão para ser
criativo”
Sendo,
para a teoria Gestalt, o cérebro um sistema dinâmico, que é capaz de sugerir
uma interação entre os elementos. Portanto, através da Terapia, a vida psíquica
do sujeito seria estudada através da combinação de elemento, como as imagens,
sons e demais estímulos, que a estabelecem. A percepção ocorre por uma totalidade
e não por pontos isolados. Podemos destacar que, a partir deste princípio,
estrutura-se um fator que servirá de conceito precursor da abordagem da
Gestalt-terapia, de que, segundo Ginger (1995, p.13), ’’ o todo é maior que a
soma de suas partes’’. Barbosa (2007, p.88) afirmou que:
[...]
não podemos deixar de considerar a estreita relação que a Gestalt–terapia
possui com as artes como uma forte fonte de influência estética também. Tanto
Fritz quanto Laura Perls sempre estiveram envolvidos com atividades artísticas
– teatro, ópera, pintura, dança, música, literatura, etc. Sem dúvida, esse
interesse comum por formas criativas de expressão muito contribui para que o
desenvolvimento da abordagem fosse esteticamente enriquecido e adquirisse esse
forte “parentesco” com a arte.
2
REFERENCIAL TEÓRICO
2.1GESTALT-TERAPIA
Gestalt-terapia
é uma abordagem psicológica que teve sua origem na Alemanha. Seu nascimento
oficial ocorreu com a publicação do livro “Gestalt-Teraphy”, em 1951, escrito
por Fritz Perls, Hefferline e Goodman.
Perls batizara este método de
“Teoria da Concentração”, uma clara oposição ao método psicanalítico da livre
associação. Realmente, esta teoria sugeria ao cliente que este se concentrasse
na experiência do aqui-agora, que houvesse uma consciência de seu estado físico
e corporal, além de utilizar os recursos de relaxamento e respiração. Esposa de
Fritz Perls, e uma das principais fundadoras da Gestalt-Terapia, Laura Perls
(1994, p.24), já dizia:
A
terapia também é uma arte. Tem mais a ver com a arte do que com a ciência.
Requer muita intuição e sensibilidade e uma visão geral... Ser artista supõe
funcionar de uma maneira holística, e ser um bom terapeuta supõe o mesmo.
Segundo
Perls (1997), a Gestalt-Terapia apresenta-se como uma abordagem fenomenológico-existencial,
por ser, uma psicoterapia baseada na vivencia. Ressaltando, desta maneira, a
consciência do aqui-e-agora, através do viés de como o fenômeno perceptivo nos é apresentado, muito mais do que no por quê. Perls, (1997), afirma que antes
de procurarmos as coisas que estejam por trás, melhor seria se focalizarmos
nossa atenção no que está ali, dado, presente, visível. Como foi visto a priori,
quando falamos em Gestalt-Terapia estamos falando de uma técnica terapêutica,
baseada na teoria que veio de uma escola de pensamento que é a psicologia da
Gestalt. Portanto, estuda como os seres
percebem as coisas e como o campo perceptivo se organiza espontaneamente por meio
das “boas formas” ou “gestalten fortes e plenas” (GINGER, 1995, p. 13)
‘’ Gestalt-Terapia, embora formalmente
apresentada como um tipo de psicoterapia é baseada em princípios que são
considerados como uma forma saudável de vida. Em outras palavras, é primeiro
uma filosofia de vida, uma forma de ser, e com base nisto, há maneiras de
aplicar este conhecimento de forma que outras pessoas possam beneficiar-se
dele. Gestalt-Terapia é a organização prática da filosofia da Gestalt.
Felizmente o Gestalt-terapeuta é antes identificado por quem ele é como pessoa,
do que pelo que é ou faz’’ (PERLS, 1997, pág. 14).
Quando nos
deparamos com um estímulo físico, tentamos compreendê-lo por meio de uma
organização perceptual. Esta organização pode ocorrer de diversas maneiras, mas
apenas uma organização aparecerá de cada vez. Caso você queira reorganizar sua
percepção conscientemente, alterando o foco de percepção, isso poderá ser
feito, mas sempre uma em cada momento. Alvim (2014, p.13), traz que o método central da Gestalt-Terapia é o
conceito de awareness, sendo este
conceito traduzido para o português como consciência,
ressaltando o valor da experiência e do aqui-e-agora, sendo este um traço
característico da teoria Gestalt, este contato com o momento presente na vida
do sujeito.
Segundo Perls
(1969/1976), a Gestalt-Terapia, ou gestaltoterapia,
norteia-se a partir do pressuposto de que o desenvolvimento psicológico e
biológico do sujeito é processado de acordo com as
tendências inatas desse sujeito, com o objetivo de adaptá-lo
harmoniosamente ao ambiente. A prática psicoterapêutica pode acontecer em grupo
ou individual e, no decorrer das suas sessões utiliza-se um conjunto de
exercícios sensório-motores (que trabalham as áreas sensoriais e
motoras do nosso corpo) e meditativos (de relaxamento). Justamente
para que o sujeito consiga perceber o aqui-e-agora, e, portanto trabalhar-se
dentro da Gestalt-Terapia. Perls (1969/ 1976), expressou uma preocupação com
terapias, que fossem de encontro ao método
perceptivo gestaltico.
‘’Estamos entrando numa fase nova e perigosa. Estamos
entrando na fase das terapias ‘estimulantes’: ligando-nos em cura instantânea,
em consciência sensorial instantânea. Estamos entrando na fase dos homens
charlatães e de pouca confiança, que pensam que se vocês obtiverem alguma
quebra de resistência estarão curados, sem considerar qualquer
necessidade de crescimento, sem considerar o potencial real, sem considerar o
gênio inato em todos vocês’’(PERLS, 1969/ 1976, p. 13).
Na teoria da Gestalt–terapia, os
padrões que o sujeito utiliza em situações de emergência e, cotidiano são
considerados mecanismos neuróticos, pois: “[...] padrões estereotipados que
limitam o processo flexível de dirigir–se criativamente ao novo” (PERLS;
HEFFERLINE; GOODMAN, 1997, p. 45). Compreendendo a neurose, como a repetição
constante de mecanismos neuróticos em vez de um processo espontâneo de
auto–regulação. Ressaltando a importância da criatividade, no processo de
auto-regulação, Moreno, criador do Psicodrama, escreveu (1984, p. 147):
A criatividade tem duas ligações; uma com o ato
criativo e com o criador. [...] a outra ligação é com a espontaneidade, sendo
esta considerada a matriz do crescimento criativo. Espontaneidade–criatividade
é considerado frequentemente um conceito gemelar contrariamente ao conceito
descartado de espontaneidade–automaticidade, que deixava de considerar os mais
profundos significados da espontaneidade, tornando–a de certo modo
incontrolável e particularmente característica do comportamento animal.
Assim sendo, podemos concluir que as
doenças psicopatológicas, na teoria da Gestalt–terapia é a perda de
flexibilidade na interação com o meio, não somente a apresentação de um quadro
padronizável de sintomas. Sendo esta uma das causas, pela qual a Gestalt não se
dedica ao diagnóstico como ferramenta e objetivo de terapia. Como afirma Perls
et al, 1997: “A psicologia é o estudo dos ajustamentos criativos, e a
psicologia anormal é o estudo da interrupção, inibição, ou outros acidentes no
decorrer do ajustamento criativo”. (PERLS; HEFFERLINE; GOODMAN, 1997, p. 45)
2.2 PRINCIPAIS LEIS DA GESTALT
a) LEI DA SEGREGAÇÃO
Segundo Gomes (2008), a segregação é a
capacidade de separar, identificar, evidenciar, notar ou destacar unidades, em
um todo composto, ou em partes desse todo, através da percepção. Ainda, segundo
Gomes (2008, p. 25):
Naturalmente,
pode-se segregar uma ou mais unidades, dependendo da desigualdade dos estímulos
produzidos pelo campo visual – em função das forças de um ou mais tipos de
contrastes. A segregação de elementos visuais pode ser feita por diversos
meios: pontos, linhas, planos, volumes, cores, sombras, brilhos, texturas,
relevos e outros.
a) LEI DA PROXIMIDADE
Esta lei dita, que os elementos óticos
que estão localizados próximos uns dos outros, exercem a tendência de serem
vistos juntos, pela percepção, formando um todo, ou unidades agrupadas dentro
do todo. Os elementos são agrupados, de acordo, com a distância a que se
encontram uns dos outros. Elementos que estão mais perto de outros numa região
tendem a ser percebidos como um grupo. (GOMES, 2008, p.34).
b) LEI DA CONTINUIDADE
Para Gomes (2008, p. 28), a ‘’
continuidade, ou continuação, define-se como as impressões visuais de como as
partes se sucedem por meio de organização perceptiva da forma, de modo
coerente, sem quebras ou interrupções ’’. Devido a uma tendência, na nossa
percepção, de seguir uma direção, de forma que os elementos sigam contínuos.
Essa lei pontua que pontos que estão conectados por uma linha reta ou curva,
são vistos pela nossa percepção de uma maneira a seguirem um caminho mais
suave. Ao invés de ver linhas e ângulos separados, linhas são vistas como uma
só.
c) LEI DA SEMELHANÇA
Segundo Gomes (2008, p. 29), cabe
ressaltar que a continuidade e a semelhança são dois fatores, que se reforçam
mutuamente. Para a lei da semelhança, eventos que são similares se agruparão
entre si. Podendo acontecer essa semelhança, na cor dos objetos, na sua textura
e na sensação dos elementos.
d) LEI DA PREGNANCIA
Pode ser encontrada na literatura,
como lei da simplicidade. Gomes (2008, p. 31), observa que a Lei da Pregnância
da forma, dita que objetos em um ambiente são vistos da forma mais simples
possíveis. Quanto mais simples, mais facilmente é assimilada a forma. Conforme
Gomes, 2008, p. 32:
Uma
melhor pregnância pressupõe que a organização formal do objeto, no sentido
psicológico, tenderá a ser sempre a melhor possível do ponto de vista
estrutural. Assim, para efeito deste, sistema de leitura visual, pode-se
afirmar e estabelecer o seguinte critério de qualificação ou julgamento
organizacional da forma:
1 – Quanto melhor ou mais clara for a organização visual da forma do objeto, em termos de facilidade de compreensão e rapidez de leitura e interpretação, maior será seu grau de pregnância.
2 – Naturalmente, quanto pior, ou mais complicada e confusa for à organização visual da forma do objeto será o seu grau de pregnância
1 – Quanto melhor ou mais clara for a organização visual da forma do objeto, em termos de facilidade de compreensão e rapidez de leitura e interpretação, maior será seu grau de pregnância.
2 – Naturalmente, quanto pior, ou mais complicada e confusa for à organização visual da forma do objeto será o seu grau de pregnância
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme
apontou Perls, Heffeline e Goodman (1997),
a Gestalt-Terapia teve como crítica, sua multiplicidade de teorias,
abordagens e técnicas. Pois foi justamente dessa multiplicidade, que ela obteve
um método completo, que busca apresentar ao sujeito neurótico, diferenciadas
percepções acerca da mesma problemática. É nesse sentido, que a
Gestalt-Terapia, tanto se aproxima da arte, como trouxe Moreno (1984), neste
despertar do aqui-e-agora, em um processo terapêutico criativo e livre. Sendo,
portanto, o espaço terapêutico, um espaço, no qual terapeuta e cliente podem
experimentar formas criativas de ser e de fazer, dando um novo olhar, diante
daquilo que fazem de forma automática. Para dar fechamento a este trabalho
introdutório a alguns dos princípios básicos da Gestalt-Terapia, dentro da
Fenomenologia, pego emprestada inspiração, nas palavras de Guedes, que tão bem
elucida o relacionamento terapêutico, e a enorme satisfação que ele gera,
quando este afirma: “[...] o que gosto mesmo é de acompanhar as pessoas nas
suas descobertas, nas suas criações” (PORCHAT; BARROS, 1985, p. 25).
REFERÊNCIAS
ALVIM, Monica B. Awenesess:
experiência e saber da experiência. In: FRAZÃO, Lilian M, FUKUMTSU, Karina M.
Gestalt Terapia – Conceitos Fundamentais. Summus: São Paulo, 2014.
BARBOSA, R. In: D’Acri, G.; Lima, P.;
Orgler, S. (Org.) Dicionário de Gestalt–
terapia – Gestaltês. São Paulo: Summus Editorial, 2007;
GINGER, Serge. Gestalt uma terapia de contato. Summus: São Paulo, 1995.
GINGER, Serge. Gestalt uma terapia de contato. Summus: São Paulo, 1995.
GOMES, João F. Gestalt do Objeto –
sistema de leitura visual da forma. Escrituras Editora: São Paulo, 2008.
MORENO, J. O teatro da espontaneidade.
São Paulo: Summus Editoral, 1984.
PERLS, Frederick S. e Outros. Isto é Gestalt. Summus: São Paulo, 1977.
PERLS, Frederick S. Gestalt Terapia.
Summus: São Paulo, 1997.
PERLS,
F.; HEFFERLINE. R.; GOODMAN, P. Gestalt–Terapia. São Paulo: Summus Editorial, 1997.
PERLS, L. Vivendo nos limites.
Valencia: Promolibro, 1994
Guedes,
A. In: PORCHAT, I; BARROS, P. (Org.). Ser
Terapeuta. São Paulo: Summus Editorial, 1985.
ZINKER, J. O Processo Criativo em
Gestalt–terapia. São Paulo: Summus Editorial, 2007.
[1] Estudante de Psicologia do Centro
Universitário de Brusque. E-mail:
laricagarcia@unifebe.edu.br
[2] Professor. Centro Universitário de
Brusque. E-mail: simonibon7@gmail.com
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