NARCISISM: AN INTRODUCTION TO THE FREUDIAN CONCEPT OF SELF-WORSHIP
RESUMO: Este trabalho objetiva apresentar o
conceito de Narcisismo, bem como mensurar as estruturas psicológicas que fazem
relação com o mesmo. Sendo este, um traço da personalidade que foi dividido em narcisismo primário e, narcisismo secundário. Todavia, são em
totalidade elaborados por Sigmund Freud, em sua obra ‘’ Narcismo: Uma
Introdução’’, do ano de 1914.
Palavras-chave: Psicanálise. Freud. Narcisismo.
ABSTRACT:
This work aims to present the concept of Narcissism, as well as to measure the
psychological structures that relate to it. Being this, a personality trait
that is, divided into primary narcissism and, secondary narcissism. However,
they are entirely elaborated by Sigmund Freud, in his work "Narcissism: An
Introduction", of the year 1914.
Keywords: Psychoanalysis.
Freud. Narcissism.
1 INTRODUÇÃO
‘’ Quando eu te
encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto É que Narciso acha feio o que não é espelho’’ (VELOSO, 1978)
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto É que Narciso acha feio o que não é espelho’’ (VELOSO, 1978)
Este
trabalho acadêmico tem como objetivo, explanar o conceito de Narcisismo,
utilizado por Freud em sua obra ‘’ Sobre o narcisismo: uma introdução’’ (On Narcissism em inglês,
Zur Einführung des Narzißmus em alemão). Tendo Freud, (1914/1990), introduzido
o conceito de ‘‘Narcisismo’’, vindo originalmente da descrição clínica
psiquiátrica, o termo, foi inicialmente proposto por Paul Nacke em 1899, para
explicar a conduta de um indivíduo que utiliza o próprio corpo, como um objeto
sexual, sugerindo que, seria esta, uma forma de perversão. Nesta obra, é
atribuído grande valor, pois nela é preparado o solo para o fértil plantio de
conceitos que posteriormente explicariam toda a estrutura da psique de forma
que Freud denominou de Metapsicologia, ressaltando os estudos sobre as relações
do Consciente com o Inconsciente.
2 REFERENCIAL
TEÓRICO
Segundo
aponta Laplanche e Pontalis (2001), por referência ao mito de Narciso, é o
amor, pela imagem de si mesmo. Aparecendo pela primeira vez na literatura de
Freud 1910, ao explicar a escolha de objetos nos homossexuais, segundo Freud
(1910, apud Laplanche e Pontalis, 2001 p. 311) ‘’ [...] tomam a si mesmos como
objeto sexual; partem do narcisismo e procuram jovens que se pareçam com eles,
e a quem possam amar assim como a mãe deles os amou’’. Conforme Roudinesco
(1998) o termo narcisismo foi utilizado pela primeira vez em 1887, por Alfred
Binet, psicólogo francês, para descrever um viés de fetichismo que consiste em
se tornar a própria pessoa como objeto sexual.
‘’ [...] até atingir plena satisfação
mediante esses atos. Desenvolvido a esse ponto, o narcisismo tem o significado
de uma perversão que absorveu toda a vida sexual da pessoa, e está sujeito às
mesmas expectativas com que abordamos o estudo das perversões em geral’’ (FREUD,
1914/1990, p.10).
Freud
(1914/1990) atentou para as pesquisas psicanalíticas, que revelam que
determinadas características narcisistas isoladas, aparecem em indivíduos
sujeitos a outros distúrbios. ‘’ e por fim apareceu a conjectura de que uma alocação
da libido que denominamos narcisismo poderia apresentar-se de modo bem mais
intenso e reivindicar um lugar no desenvolvimento sexual regular do ser
humano’’ (FREUD, 1914/1990, p. 10). Neste sentido, o Narcisismo não seria
propriamente uma perversão, mas, afirma Freud (1914/1990, p. 10) ’’o complemento
libidinal do egoísmo do instinto de auto conservação’’. Ainda sobre o instinto de conservação, além
disto, Freud afirma ser o Narcisismo um traço de normalidade no indivíduo,
fazendo uma comparação com a esquizofrenia,
propõe (1914/1990 p.10/11):
Esses doentes, que eu sugeri designar
como parafrênicos, mostram duas características fundamentais: a megalomania e o
abandono do interesse pelo mundo externo (pessoas e coisas). Devido a esta
última mudança, eles se furtam à influência da psicanálise, não podendo ser
curados por nossos esforços. Mas o afastamento do parafrênico face ao mundo
externo pede uma caracterização mais precisa. Também o histérico e o neurótico
obsessivo abandonam, até onde vai sua doença, a relação com a realidade. A
análise mostra, porém, que de maneira nenhuma suspendem a relação erótica com
pessoas e coisas. Ainda a mantêm na fantasia, isto é, por um lado substituem os
objetos reais por objetos imaginários de sua lembrança, ou os misturam com
estes, e por outro lado renunciam a empreender as ações motoras para alcançar
as metas relativas a esses objetos.
Segundo
Freud (1914/1990), a atitude narcisista nos neuróticos implica numa resistência
transferencial intensa. Enquanto na esquizofrenia há retirada da libido do
mundo externo para o eu, já na neurose a libido que foi retirada dos objetos
vai investir os objetos da fantasia. A partir desta afirmação, eis que surge a
pergunta: ‘’ qual o destino da libido retirada da esquizofrenia?’’ (FREUD, 1914/1990,
p. 11). Tendo a megalomania, criada a partir da libido objetal, mostrado o
caminho a seguir, conforme afirma Freud (1914/1990, p.11) ‘’ a libido retirada
do mundo externo foi dirigida ao Eu, de modo a surgir uma conduta que podemos
chamar de narcisismo’’. Segundo o conceito de Eu, afirma Freud (1914/1990,
p.13/14):
O valor dos conceitos de libido do Eu e
libido de objeto está em que derivam da elaboração de características íntimas
dos processos neuróticos e psicóticos. A distinção entre uma libido que é
própria do Eu e uma que se atém aos objetos constitui o inevitável
prosseguimento de uma primeira hipótese, que separava instintos sexuais de
instintos do Eu. Pelo menos a isso me levou a análise das puras neuroses de
transferência (histeria e neurose obsessiva), e sei apenas que todas as
tentativas de prestar contas de tais fenômenos por outros meios fracassaram
radicalmente.
Freud
(1914/1990), ainda, dividiu o Narcisismo em dois tipos, o narcisismo primário e
o narcisismo secundário. Sendo que no primário, o sujeito teria como modo de
satisfação da libido o auto-erotismo,
que foi conceituado como o prazer que o órgão tira de si mesmo. Por conta
disso, essas pulsões, de forma independente, buscam satisfazer-se no próprio
corpo. Freud (1914/1990) ressalta a posição dos pais na constituição do narcisismo
primário nos filhos. Portanto o amor dos pais aos filhos, é o narcisismo dos
mesmos, renascido e transformado em amor objetal. Assim,
Freud definiu a escolha objetal ‘anaclítica’
ou de ‘ligação’, quando ama-se
segundo o modelo do amor recebido na relação com as figuras parentais, aquela
que alimenta e protege. Sobre a relação da esquizofrenia com o amor objetal,
verificou-se que:
‘’ O delírio de
grandeza, próprio a esses estados, nos indica o caminho. Sem dúvida, nasceu às
expensas da libido de objeto. A libido retirada do mundo externo foi conduzida
para o eu e assim surgiu uma atitude que podemos chamar narcisismo. Mas o
delírio de grandeza não é uma criação nova, como sabemos, é a ampliação e o
desdobramento de um estado que já existia antes. Isso nos leva a conceber o
narcisismo que nasce da retirada dos investimentos objetais como um narcisismo
secundário que se edifica sobre a base do outro, primário’’ (FREUD, 1914/1990,
p.19)
No
conceito de Narcisismo secundário, Freud (1924/1990) explora dois momentos
distintos, que seria primeiramente o Investimento
nos objetos, seguindo este investimento reforma para o seu (ego). Quando, ainda bebê, o indivíduo já é capaz de
diferenciar seu próprio corpo do mundo externo, identificando suas necessidades
e quem, ou o que, é apto para satisfazê-las. Visto que, o indivíduo concentra
em um objeto suas pulsões sexuais parciais, há esse investimento objetal, que
se dirige para a mãe e o seio como objeto parcial. Porém, conforme cresce, a
criança identifica que não é o único objeto de desejo da mãe, perdendo o trono,
de seu reinado até então, absoluto. Portanto, a partir desta constatação, a
criança vai ao mundo em busca de fazer-se amado pelo outro, em agrada-lo para
reconquistar o seu amor. Contudo, afirma Nasio (1988) este amor, só é
reconquistado a partir do ideal do seu eu.
Segundo Freud (1914/1990), o ego ideal é ambiguamente, um
substituto do narcisismo perdido da
infância (onipotência infantil), bem como, o produto da identificação das figuras
parentais, assim como seus intermediários sociais. O narcisismo dos indivíduos surge, deslocado
em direção a esse ego ideal. Bem como
o ego infantil, o ego ideal, configura-se detentor de todo valor e perfeição.
Assim sendo, os indivíduos com tal vertente, não estão dispostos a renunciar
seu narcisismo infantil, e toda sua
perfeição. Projetando, diante de si como sendo seu ideal, o substituto deste
amor narcisista de sua infância, aonde o próprio bebê era seu ideal. Sendo de
características normais este processo dar-se com a criança, do contrário
afirma, MOMBACH (2014, p.
3. apud CORDIÉ, 1996):
Pois bem, o bebê constituir-se-á a
partir dessa primeira relação dual com a mãe, onde vai extrair significados
primordiais e fundamentais destes investimentos libidinais, que refletiram mais
tarde na construção de seus próprios significados. Contudo, para que se
inaugure esta construção psíquica é necessária, a passagem do bebê pelo
Narcisismo. Caso contrário, conforme Cordié (1996) podem ocorrer acidentes de percurso
na constituição deste corpo imaginário e libidinal podendo provocar distúrbios
diversos, como, por exemplo, as doenças psicossomáticas, distúrbios
instrumentais e também debilidade.
Quando ocorre a formação do ideal,
as exigências do ego automaticamente aumentam acerca do que Freud (1914/1990),
estabeleceu como o fator de maior potência a favor, ao que se refere ao
recalque. Sendo que o objetivo do eu (ego), é reencontrar a perfeição e o amor
narcísico, sendo que para isso ele deverá satisfazer as exigências do ideal do
ego (eu). Conforme aponta Laplanche e Pontalis (2001, p.156), acerca da escolha
do objeto narcísico:
A escolha narcísica de objeto opõe-se à
escolha de objeto por apoio na medida em que não é a reprodução de uma relação
de objeto preexistente, mas a formação de uma relação de objeto a partir do
modelo da relação do sujeito consigo mesmo. Nas suas primeiras elaborações da
noção de narcisismo, Freud faz da escolha narcísica homossexual uma etapa que
leva o sujeito do narcisismo à heterossexualidade: a criança escolhería a
princípio um objeto de órgãos genitais semelhantes aos seus.
Freud
(1914/1990) ressalta que a escolha objetal narcísica é um amar a si mesmo,
através de semelhante, sendo que, em todo amor objetal há uma parcela de
narcisismo. Sendo, este objeto, um reflexo do eu. Já o ideal sexual, segundo
Freud (1914/1990), tem uma relação auxiliar com o ideal de ego podendo,
portanto, ser empregada na satisfação substituta, onde a realização narcisista
encontra obstáculos. Sendo ele, a busca do indivíduo, por um amor que seja do
tipo narcisista da escolha objetal. Segundo Laplanche e Pontalis (2001), esta
escolha se faz com base no modelo da relação do individuo consigo mesmo, e em
que o objeto o representa sob alguns aspectos.
O
modelo de escolha de objeto narcísica, caracterizado por Freud (1914/1990),
também é visto como o amor, que o autor chama de essencialmente feminino. O emprego que algumas mulheres fazem em si
mesmas se compara em intensidade ao amor que os homens lhes dedicam. Tal necessidade feminina consiste em, mais em
serem amadas e menos em amar, conforme Freud (1914/1990) afirma que mesmo para
as mulheres narcisistas há um caminho que as leva ao amor objetal, que é
através do amor ao filho. Todavia esse amor carregue um traço narcisista no
sentido em que o investimento é dirigido a alguém que foi parte do próprio
corpo, portanto parte de si mesma.
‘’ Se introduzimos
nossa distinção entre instintos sexuais e do Eu, temos de reconhecer para o
amor-próprio uma dependência bem íntima da libido narcísica. Nisso nos apoiamos
em dois fatos fundamentais: o de que nas parafrenicas o amor-próprio é
aumentado, nas neuroses de transferência é diminuído; e que na vida amorosa não
ser amado rebaixa o amor-próprio, enquanto ser amado o eleva. Como afirmamos,
ser amado representa o objetivo e a satisfação na escolha narcísica de objeto. É
fácil observar, além disso, que o investimento libidinal de objetos não aumenta
o amor-próprio. A dependência do objeto amado tem efeito rebaixador; o
apaixonado é humilde. Alguém que ama perdeu, por assim dizer, uma parte de seu
narcisismo, e apenas sendo amado pode reavê-la. Em todos esses vínculos o amor-próprio
parece guardar relação com o elemento narcísico da vida amorosa.’’ (FREUD,
1914/1990, p. 31)
Para
Freud (1914/1990), o Narcisismo, por si só, não é considerado uma patologia.
Sendo ele, um integrador e protetor da personalidade e, também, do psiquismo.
Alguns aspectos fazem parte do funcionamento narcisista como, a preocupação
exagerada com o corpo, demonstra uma exagerada necessidade de se sentirem
amados e valorizados, buscam elogios, frustram-se com críticas, sentem-se
infelizes quando ignorados. Os indivíduos narcisistas mantêm relacionamentos
superficiais, tendo dificuldade em relacionar-se de forma mais profunda,
inclusive na terapia apresentam resistência a manter uma relação verdadeira. Outra
dificuldade apontada consiste no próprio estudo direto do narcisismo, pois
segundo Freud (1914/1990, p.16):
O principal acesso a ele continuará
sendo provavelmente o estudo das parafrenias. Assim como as neuroses de
transferência nos possibilitaram rastrear os impulsos instintuais libidinais, a
dementia praecox e a paranoia nos permitirão entender a psicologia do Eu. Mais
uma vez teremos que descobrir, a partir dos exageros e distorções do
patológico, o que é aparentemente simples no normal. No entanto, para nos
aproximarmos do conhecimento do narcisismo, algumas outras vias continuam
abertas para nós, e são elas que passo agora a descrever: a consideração da
doença orgânica, da hipocondria e da vida amorosa dos sexos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em sua
obra, Freud constrói uma análise de fundamental importância, bem como os
conceitos primordiais, que incorporados à psicanálise, que identificam e
estabelecem as relações fundamentais das relações de objeto, pulsão e destino
das pulsões, as idealizações do eu ou eu
ideal, abrindo caminho nesse percurso para a compreensão das bases da
estrutura psíquica e da transferência narcísica e amor objetal.
Freud
(1914/1990) sinaliza a relevância da temática ao referir-se à distinção entre narcisismo primário e narcisismo secundário, conceitos que podem ser relacionados à diferenciação
das estruturas neurótica e psicótica. A concepção do ideal do ego permite um primeiro olhar
da estrutura social, de onde vem que o ideal moral da civilização é constituído
com base no narcisismo. Tendo ele sido originado da incapacidade de se
renunciar ao modo de satisfação narcísica já obtida.
REFERÊNCIAS
FREUD, S. (1914).
Sobre o narcisismo: uma introdução. In: FREUD, S. Edição standard brasileira
das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v.14. Rio de Janeiro: Imago,
1990.
LAPLANCHE, J;
PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo:Martins Fontes, 2001.
MOMBACH,
E. M. 2014 Amor, Narcisismo e Dor. Rio Grande do Sul: Circuito Psicanalítico do
Rio Grande do Sul, 2014 – APUD CORDIÉ, A. Os atrasados não existem, psicanálise
de crianças com fracasso escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
NASIO, J. D. A criança magnífica da
psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.
VELOSO, C. Muito: dentro da estrela
azulada – Sampa. São Paulo: 1978.
Disponível em: https://musicasbrasileiras.wordpress.com/2010/07/26/sampa-caetano-veloso/
Acesso em: 20/05/2018.
ROUDINESCO,
E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
[1] Estudante de Psicologia do Centro
Universitário de Brusque. E-mail:
laricagarcia@unifebe.edu.br
[2] Professor. Centro Universitário de
Brusque. E-mail: gustavooangeli@gmail.com
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