Graduação
em Psicologia
Disciplina: Abordagem Psicanalítica
Professor: Gustavo Angeli
Acadêmico (a): Larissa
Garcia
Quarta-Feira, 09 de Maio de 2018.
Quarta-Feira, 09 de Maio de 2018.
PSICANÁLISE ALÉM DAS PALAVRAS: O PRAZER
EM LER FREUD, E A TEORIA DO INCONSCIENTE.
"O que me encanta ao ler Freud, quando o compreendo, é sua
força, sua loucura, sua força louca e genial de querer explicar qual é a
fonte íntima que nos anima, a nós humanos. O prazer de ler Freud é
descobrir que, para além das palavras, é de nós que ele está falando.”
(NÃSIO, pág.05).
Faço
minhas, as palavras do psicanalista e, também psiquiatra, Juan-David Nasio, ao
iniciar sua obra ‘’ O prazer em ler Freud’’, de 1999. A priori, o autor
convida, com toda sua convicção, a fazerem parte da regra de que todo
psicanalista é crente no conceito de inconsciente e recalcamento. Após breve apanhado acerca dos seguidores de
Freud, chamados pós-Freudianos, encontrando desta maneira a fundamentação
teórico-histórica necessária para abarcar suas justificativas, em tudo que se
refere aos processos psicológicos dos sujeitos. Como justificativa de obra, apresentar
o essencial da teoria da psicanálise, Nasio (1999, p. 10), cita Freud:
A aceitação de processos
psíquicos inconscientes, o reconhecimento da doutrina da resistência e do
recalcamento e a consideração da sexualidade e do complexo de Édipo são os
conteúdos principais da psicanálise e os fundamentos de sua teoria, e quem não
estiver em condições de subscrever todos eles não deve figurar entre os
psicanalistas.
A
partir de como Nasio (1999, p.15), identifica os temas fundamentais que são o
inconsciente, o recalcamento, a sexualidade, o complexo de Édipo, as três
instâncias psíquicas que são o eu, o isso e o supereu, o conceito de identificação
e, finalmente, a transferência no tratamento analítico. Ainda sobre o
funcionamento mental, o autor, reflete sobre um esquema da lógica do aparelho
psíquico, neurológico do arco reflexo, estando em uma ponta estaria o
inconsciente (parte sensível), e na outra ponta estaria o que é relacionado com
os afazeres do cotidiano e tarefas motoras que são consequências dos estímulos
inconscientes, sendo este um paradigma fundamental da neurologia moderna. O
autor (NASIO, 1999, p. 16), pondera:
O esquema neurológico do
arco reflexo é muito simples e bastante conhecido (Figura 1). Ele comporta duas
extremidades: a da esquerda, extremidade sensível, em que o sujeito percebe a
excitação, isto é, a injeção de uma quantidade “x” de energia — quando ele
recebe, por exemplo, uma leve martelada médica no joelho. A da direita,
extremidade motora, em que o sujeito libera a energia recebida numa resposta
imediata do corpo — em nosso exemplo, a perna reage prontamente com um
movimento reflexo de extensão. Entre as duas extremidades, instala-se assim uma
tensão que aparece com a excitação e desaparece com a descarga motora. O
princípio que rege esse trajeto em forma de arco é, portanto muito claro:
receber a energia transformá-la em ação e, consequentemente, reduzir a tensão
do circuito. (ANEXO 1)
Ao
pensarmos neste esquema de forma psíquica, vemos que o psiquismo tenta obedecer
esta regra, porém, sem obter êxito na tentativa de descarga total de tensão,
que nunca é esgotada. Na psicanálise este principio, é chamado de Princípio de desprazer-prazer (NASIO, 1999,
p.18). Obedecendo a este principio, há duas características próprias do
psiquismo, segundo Nasio (1999, p.20):
a) A
excitação é sempre de origem interna, e nunca externa. Quer se trate de uma
excitação proveniente de uma fonte externa, como, por exemplo, o choque
provocado pela visão de um violento acidente de automóvel, quer se trate de uma
excitação proveniente de uma fonte orgânica, como a fome, a excitação continua
sempre interna ao psiquismo, já que tanto o choque exterior quanto a
necessidade interior criam uma marca psíquica, à maneira de um selo impresso na
cera. De fato, a fonte da excitação endógena situada no pólo sensitivo do
aparelho psíquico é uma marca, uma idéia, uma imagem, ou, para empregar o termo
apropriado, um representante ideativo carregado de energia, também chamado
representante das pulsões. Frisamos que na seqüência do texto empregaremos indiferentemente
as palavras “representante” e “representação”.
b) Segunda característica: esse representante, depois de carregado uma primeira vez, tem a particularidade de continuar permanentemente excitado e de funcionar como uma chaleira que fervesse eternamente, de tal maneira que o aparelho psíquico permanece constantemente excitado. Da mesma forma, é impossível suprimir completamente uma tensão que se realimenta sem cessar.
b) Segunda característica: esse representante, depois de carregado uma primeira vez, tem a particularidade de continuar permanentemente excitado e de funcionar como uma chaleira que fervesse eternamente, de tal maneira que o aparelho psíquico permanece constantemente excitado. Da mesma forma, é impossível suprimir completamente uma tensão que se realimenta sem cessar.
Sendo,
portanto, o Desprazer proposto por
Freud, uma constante tentativa do psiquismo, de escoar a tensão, porém essas
tentativas são sempre frustradas, e a tensão nunca é verdadeiramente eliminada.
Podemos também entender o conceito de Desprazer
como a manutenção, ou aumento da tensão. Já o contrário, a supressão da tensão,
é chamado de Prazer (NASIO, p.20).
Segundo o autor, há três razões pelas quais essa descarga total da tensão, não
acontece. Por ser a fonte psíquica da excitação inesgotável, já se faz a
primeira razão. Em segundo, pelo fato do psiquismo reagir à excitação por meio
de metáforas. Por último, e segundo Nasio (1999, p.22), mais importante,
consiste na existência do recalcamento. Nasio
traz o conceito de recalcamento como “um adensamento de energia, uma chapa
energética que impede a passagem dos conteúdos inconscientes para o
pré-consciente” (1999 p.25/26). Este tem por objetivo
proteger o Eu dos riscos que ele correria caso conseguisse satisfazer
plenamente a exigência pulsional.
Já
no conceito de sexualidade, o autor dá ênfase sobre o conteúdo do termo que ele
chama de "a premissa fundadora da
Psicanálise", que reflete sobre nossos atos involuntários terem um
sentido que nos escapa e que, mesmo que não saibamos. Portanto, obter prazer,
seria o nosso objetivo primordial, e nessa tentativa, o outro ocupa um lugar
especial, que supostamente nos garantiria a obtenção total desse prazer.
Portanto nossos laços são efetivamente constituídos á partir disso.
‘’ O sentido de nossos atos é um
sentido sexual porque a fonte e o objetivo dessas tendências são sexuais. A
fonte é um representante pulsional cujo conteúdo representativo corresponde a
uma região do corpo muito sensível e excitável, chamada zona erógena. Quanto ao
objetivo, sempre ideal, é o prazer perfeito de uma ação perfeita, de uma
perfeita união entre dois sexos, cuja imagem mítica e universal seria o
incesto’’ (p.47)
Ainda
neste capítulo, Nasio aponta para as diversas possibilidades de se obter
prazer, com o corpo, com o outro, com fantasias, desde o bebê até a vida
adulta, passando pelas diferenciações de necessidade (existência de um
órgão/objeto concreto), desejo (expressão de pulsão sexual) e amor (apego ao
outro de maneira global, sem o suporte de uma zona erógena definida).
‘’Freud
decompõe a pulsão sexual em quatro elementos. Deixando de lado a fonte de onde
ela brota (zona erógena),a força que a move e o objetivo que a atrai, a pulsão serve-se
de um objeto por meio do qual tenta chegar a seu objetivo ideal. Esse objeto
pode ser uma coisa ou uma pessoa, ora a própria pessoa, ora outra, mas é sempre
um objeto fantasiado, e não real. Isso é importante para compreender que os
atos substitutivos através dos quais s pulsões sexuais se exprimem (uma palavra
inesperada, um gesto involuntário, ou laços afetivos que não escolhemos) são
atos moldados em fantasias e organizados em torno de um objeto fantasiado’’ (NASIO,
1999, p.48).
Visto
que na identificação, o autor percorre o
caminho de distinguir o conceito da palavra identificação enquanto linguagem
comum, que abarca a percepção de um objeto onde nos reconhecemos ou nos
encontramos e chega ao conceito psicanalítico de identificação, onde Nasio
(1999, p. 80), diferencia dois processos de identificação, o consciente e o
inconsciente, pois no primeiro toma como o exemplo o menino que quer ser como o
pai, imita-o, anda da mesma forma, seus trejeitos, mas apenas uma vontade
consciente, porém no segundo processo, o menino tem " ...o desejo
inconsciente de ser o outro(....) de apropriar-se dos sentimentos e fantasias
inconscientes do outro." (NASIO, 1999, p. 83). Ainda sobre o processo de
identificação, e sua relevância dentro da Psicanálise, afirma Nasio, (1999, p.
85)
A identificação é a
palavra que nomeia o processo do amor. Mas a identificação designa também um
processo tão essencial quanto o do amor, isto é, o processo de formação do eu.
Explico-me, fazendo uma última pergunta: quem somos nós, do ponto de vista do
nosso psiquismo? O que é o eu? Isto é, de que substância é feito o nosso eu?
Pois bem, a resposta da psicanálise é muito clara: somos feitos de todas as
marcas que deixam em nós os seres e as coisas que amamos fortemente agora ou
que amamos fortemente no passado e às vezes perdemos.
CONCLUSÃO
O
autor apresenta em sua obra, facilitadores para a leitura da obra de Freud. De
forma direta e bastante simples, Nasio expõe alguns conceitos psicanalíticos,
de forma que o leitor se interesse a buscar mais a fundo, materiais que
expliquem os mecanismos do psiquismo. Ainda referente aos mecanismos de
psiquismo, é impressionante a forma que o autor os consegue explicar,
utilizando de gráficos. Fator que, até então, me era desconhecido. De forma
muito natural, diria quase aconchegante, Nasio exemplifica a sexualidade, ao
que considera a ‘’ premissa básica da
psicanálise’’. Neste capítulo, podemos notar mais claramente a influência
de Freud, visto que o autor também utiliza da descrição de alguns de seus
casos, para na prática explicar a teoria. No todo, fica claro, que é capacidade
de amar que nos torna, psiquicamente, sadios ou patológicos. De forma a
reiterar minhas conclusões, deu um fechamento também utilizando de uma frase de
Nasio, que tão bem resume a essência de sua obra, e também porque não dizer, da
teoria psicanalítica do inconsciente.
‘’ Mas
devemos ainda compreender que a vida psíquica está imersa no mundo dos outros,
no mundo daqueles a quem estamos ligados pela linguagem, por nossas fantasias e
nossos afetos’’ (NASIO, 1999, p. 42).
REFERÊNCIA
NASIO,
Juan-David . O Prazer de Ler Freud. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,1999,112 p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário