domingo, 3 de junho de 2018

O Prazer em ler Freud



                          

Graduação em  Psicologia
Disciplina: Abordagem Psicanalítica
Professor: Gustavo Angeli
Acadêmico (a): Larissa Garcia
Quarta-Feira, 09 de Maio de 2018.

PSICANÁLISE ALÉM DAS PALAVRAS: O PRAZER EM LER FREUD, E A TEORIA DO INCONSCIENTE.
"O que me encanta ao ler Freud, quando o compreendo, é sua força, sua loucura, sua força louca e genial de querer explicar qual é a fonte íntima que nos anima, a nós humanos. O prazer de ler Freud é descobrir que, para além das palavras, é de nós que ele está falando.” (NÃSIO, pág.05).
Faço minhas, as palavras do psicanalista e, também psiquiatra, Juan-David Nasio, ao iniciar sua obra ‘’ O prazer em ler Freud’’, de 1999. A priori, o autor convida, com toda sua convicção, a fazerem parte da regra de que todo psicanalista é crente no conceito de inconsciente e recalcamento.  Após breve apanhado acerca dos seguidores de Freud, chamados pós-Freudianos, encontrando desta maneira a fundamentação teórico-histórica necessária para abarcar suas justificativas, em tudo que se refere aos processos psicológicos dos sujeitos. Como justificativa de obra, apresentar o essencial da teoria da psicanálise, Nasio (1999, p. 10), cita Freud:

A aceitação de processos psíquicos inconscientes, o reconhecimento da doutrina da resistência e do recalcamento e a consideração da sexualidade e do complexo de Édipo são os conteúdos principais da psicanálise e os fundamentos de sua teoria, e quem não estiver em condições de subscrever todos eles não deve figurar entre os psicanalistas.
A partir de como Nasio (1999, p.15), identifica os temas fundamentais que são o inconsciente, o recalcamento, a sexualidade, o complexo de Édipo, as três instâncias psíquicas que são o eu, o isso e o supereu, o conceito de identificação e, finalmente, a transferência no tratamento analítico. Ainda sobre o funcionamento mental, o autor, reflete sobre um esquema da lógica do aparelho psíquico, neurológico do arco reflexo, estando em uma ponta estaria o inconsciente (parte sensível), e na outra ponta estaria o que é relacionado com os afazeres do cotidiano e tarefas motoras que são consequências dos estímulos inconscientes, sendo este um paradigma fundamental da neurologia moderna. O autor (NASIO, 1999, p. 16), pondera:

O esquema neurológico do arco reflexo é muito simples e bastante conhecido (Figura 1). Ele comporta duas extremidades: a da esquerda, extremidade sensível, em que o sujeito percebe a excitação, isto é, a injeção de uma quantidade “x” de energia — quando ele recebe, por exemplo, uma leve martelada médica no joelho. A da direita, extremidade motora, em que o sujeito libera a energia recebida numa resposta imediata do corpo — em nosso exemplo, a perna reage prontamente com um movimento reflexo de extensão. Entre as duas extremidades, instala-se assim uma tensão que aparece com a excitação e desaparece com a descarga motora. O princípio que rege esse trajeto em forma de arco é, portanto muito claro: receber a energia transformá-la em ação e, consequentemente, reduzir a tensão do circuito. (ANEXO 1)

Ao pensarmos neste esquema de forma psíquica, vemos que o psiquismo tenta obedecer esta regra, porém, sem obter êxito na tentativa de descarga total de tensão, que nunca é esgotada. Na psicanálise este principio, é chamado de Princípio de desprazer-prazer (NASIO, 1999, p.18). Obedecendo a este principio, há duas características próprias do psiquismo, segundo Nasio (1999, p.20):

a) A excitação é sempre de origem interna, e nunca externa. Quer se trate de uma excitação proveniente de uma fonte externa, como, por exemplo, o choque provocado pela visão de um violento acidente de automóvel, quer se trate de uma excitação proveniente de uma fonte orgânica, como a fome, a excitação continua sempre interna ao psiquismo, já que tanto o choque exterior quanto a necessidade interior criam uma marca psíquica, à maneira de um selo impresso na cera. De fato, a fonte da excitação endógena situada no pólo sensitivo do aparelho psíquico é uma marca, uma idéia, uma imagem, ou, para empregar o termo apropriado, um representante ideativo carregado de energia, também chamado representante das pulsões. Frisamos que na seqüência do texto empregaremos indiferentemente as palavras “representante” e “representação”.
b) Segunda característica: esse representante, depois de carregado uma primeira vez, tem a particularidade de continuar permanentemente excitado e de funcionar como uma chaleira que fervesse eternamente, de tal maneira que o aparelho psíquico permanece constantemente excitado. Da mesma forma, é impossível suprimir completamente uma tensão que se realimenta sem cessar.


Sendo, portanto, o Desprazer proposto por Freud, uma constante tentativa do psiquismo, de escoar a tensão, porém essas tentativas são sempre frustradas, e a tensão nunca é verdadeiramente eliminada. Podemos também entender o conceito de Desprazer como a manutenção, ou aumento da tensão. Já o contrário, a supressão da tensão, é chamado de Prazer (NASIO, p.20). Segundo o autor, há três razões pelas quais essa descarga total da tensão, não acontece. Por ser a fonte psíquica da excitação inesgotável, já se faz a primeira razão. Em segundo, pelo fato do psiquismo reagir à excitação por meio de metáforas. Por último, e segundo Nasio (1999, p.22), mais importante, consiste na existência do recalcamento. Nasio traz o conceito de recalcamento como “um adensamento de energia, uma chapa energética que impede a passagem dos conteúdos inconscientes para o pré-consciente” (1999 p.25/26). Este tem por objetivo proteger o Eu dos riscos que ele correria caso conseguisse satisfazer plenamente a exigência pulsional.

Já no conceito de sexualidade, o autor dá ênfase sobre o conteúdo do termo que ele chama de "a premissa fundadora da Psicanálise", que reflete sobre nossos atos involuntários terem um sentido que nos escapa e que, mesmo que não saibamos. Portanto, obter prazer, seria o nosso objetivo primordial, e nessa tentativa, o outro ocupa um lugar especial, que supostamente nos garantiria a obtenção total desse prazer. Portanto nossos laços são efetivamente constituídos á partir disso.

         ‘’ O sentido de nossos atos é um sentido sexual porque a fonte e o objetivo dessas tendências são sexuais. A fonte é um representante pulsional cujo conteúdo representativo corresponde a uma região do corpo muito sensível e excitável, chamada zona erógena. Quanto ao objetivo, sempre ideal, é o prazer perfeito de uma ação perfeita, de uma perfeita união entre dois sexos, cuja imagem mítica e universal seria o incesto’’ (p.47)

Ainda neste capítulo, Nasio aponta para as diversas possibilidades de se obter prazer, com o corpo, com o outro, com fantasias, desde o bebê até a vida adulta, passando pelas diferenciações de necessidade (existência de um órgão/objeto concreto), desejo (expressão de pulsão sexual) e amor (apego ao outro de maneira global, sem o suporte de uma zona erógena definida).

‘’Freud decompõe a pulsão sexual em quatro elementos. Deixando de lado a fonte de onde ela brota (zona erógena),a força que a move e o objetivo que a atrai, a pulsão serve-se de um objeto por meio do qual tenta chegar a seu objetivo ideal. Esse objeto pode ser uma coisa ou uma pessoa, ora a própria pessoa, ora outra, mas é sempre um objeto fantasiado, e não real. Isso é importante para compreender que os atos substitutivos através dos quais s pulsões sexuais se exprimem (uma palavra inesperada, um gesto involuntário, ou laços afetivos que não escolhemos) são atos moldados em fantasias e organizados em torno de um objeto fantasiado’’ (NASIO, 1999, p.48).



Visto   que na identificação, o autor percorre o caminho de distinguir o conceito da palavra identificação enquanto linguagem comum, que abarca a percepção de um objeto onde nos reconhecemos ou nos encontramos e chega ao conceito psicanalítico de identificação, onde Nasio (1999, p. 80), diferencia dois processos de identificação, o consciente e o inconsciente, pois no primeiro toma como o exemplo o menino que quer ser como o pai, imita-o, anda da mesma forma, seus trejeitos, mas apenas uma vontade consciente, porém no segundo processo, o menino tem " ...o desejo inconsciente de ser o outro(....) de apropriar-se dos sentimentos e fantasias inconscientes do outro." (NASIO, 1999, p. 83). Ainda sobre o processo de identificação, e sua relevância dentro da Psicanálise, afirma Nasio, (1999, p. 85)

A identificação é a palavra que nomeia o processo do amor. Mas a identificação designa também um processo tão essencial quanto o do amor, isto é, o processo de formação do eu. Explico-me, fazendo uma última pergunta: quem somos nós, do ponto de vista do nosso psiquismo? O que é o eu? Isto é, de que substância é feito o nosso eu? Pois bem, a resposta da psicanálise é muito clara: somos feitos de todas as marcas que deixam em nós os seres e as coisas que amamos fortemente agora ou que amamos fortemente no passado e às vezes perdemos.


CONCLUSÃO

O autor apresenta em sua obra, facilitadores para a leitura da obra de Freud. De forma direta e bastante simples, Nasio expõe alguns conceitos psicanalíticos, de forma que o leitor se interesse a buscar mais a fundo, materiais que expliquem os mecanismos do psiquismo. Ainda referente aos mecanismos de psiquismo, é impressionante a forma que o autor os consegue explicar, utilizando de gráficos. Fator que, até então, me era desconhecido. De forma muito natural, diria quase aconchegante, Nasio exemplifica a sexualidade, ao que considera a ‘’ premissa básica da psicanálise’’. Neste capítulo, podemos notar mais claramente a influência de Freud, visto que o autor também utiliza da descrição de alguns de seus casos, para na prática explicar a teoria. No todo, fica claro, que é capacidade de amar que nos torna, psiquicamente, sadios ou patológicos. De forma a reiterar minhas conclusões, deu um fechamento também utilizando de uma frase de Nasio, que tão bem resume a essência de sua obra, e também porque não dizer, da teoria psicanalítica do inconsciente.

‘’ Mas devemos ainda compreender que a vida psíquica está imersa no mundo dos outros, no mundo daqueles a quem estamos ligados pela linguagem, por nossas fantasias e nossos afetos’’ (NASIO, 1999, p. 42).





REFERÊNCIA

NASIO, Juan-David . O Prazer de Ler Freud. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed.,1999,112 p.

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